A
chama não é tão clara pra si mesma
Quanto
para quem ela ilumina
E
mesmo a sombra que nos acompanha
Desaparece
ausente a luz do dia
Quando
um dia eu fui carvão verde,
Ardendo
e estalando na floresta, eu era
Mais
interessante que útil, agora
Eu
sou muito mais imodesto, deveras
É
preciso que o sábio saiba ver o sol em si mesmo
Sem
que para isso ele tenha que cegar-se no espelho
A
minha obra não sou eu próprio
Ainda
que o coração me inflame
E
toda a vida me dê cornucópia
Quanto
a mim, tu não te enganes
Quanto
a isso, não se exaspere:
Não
se adianta a própria morte
Então,
sede como o jambo: perfuma
O
hálito da própria boca que o morde
É
preciso dar à luz a sua mais elevada esperança
A
qual se mantém viva alojada no útero da agonia
A
flama consome a si mesma na vela
E ao
fim da estrada em que cada um caminha,
O que
há de bem e de mal nos portais
De um
momento infinito se anela
Um
verso, uma rima: florida guirlanda
Penduro
na porta antes da partida
Ansiando
pelo retorno a ciranda,
Rendendo
sempre homenagens à vida
É
preciso que o homem se entregue ao labor que perscruta
Criando
forma mais bela, lapidando em si sua rocha bruta
É
preciso que o herói tenha um par de olhos na nuca
Nem
que pra isso ele deva pagar os olhos da cara

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